sábado, 23 de julho de 2011

General Del Pino. FORÇAS CUBANAS, O EXÉRCITO MERCENÁRIO. Barbárie do regime estimulou a guerrilha da UNITA


Neste excelente livro o general Del Pino relata minuciosamente o que se passou em Cuba e na guerra em Angola. Em edição anterior passamos uma parte desta obra e hoje retomamos, chamando a atenção dos leitores, para nos atermos a importância do seu conhecimento e visão da política de então. Neste texto o autor, revela as barbaridades que os cubanos fizeram com o povo angolano.

Rafael Del Pino*

Pg. 227/230. Depois dos ataques aéreos iniciados pela aviação em Março de 1976, Savimbi passou por completo à guerra irregular e a reorganização das suas forças para continuar a luta contra os ocupantes estrangeiros e seus fantoches do MPLA.
Por sua parte, o governo cubano começou a substituir a maioria dos chefes militares que tinham participado na guerra convencional, por oficiais especializados na luta anti-guerrilha com a finalidade de capturar Savimbi e sufocar todo o vestígio possível da resistência por parte da UNITA.
Entre estes oficiais foi enviado o coronel "Pineo" o qual arrasou centenas de aldeias assassinando os seus habitantes e convertendo-os em cinzas. Para eles todo o habitante dos planaltos centrais ou todo o que cheirasse a ovimbundo era um inimigo e devia ser exterminado.
Como chefe da Missão Militar Cubana foi nomeado o general Menéndez Tomasevich antigo guerrilheiro da Serra Maestra e que também tinha estado vários anos nas montanhas da Venezuela durante um dos vários intentos de Fidel para destabilizar os países latino-americanos e exportar a revolução.
Além disso Tomasevich tinha um grande historial de repressão e assassinatos no tempo em que dirigiu as operações contra os rebeldes anti-castristas nas montanhas de Escambray na região central de Cuba. Este último representava um bom aval para a nova modalidade de guerra que deviam enfrentar as tropas cubanas a partir daquele momento.
Argumentando que a aviação não era efectiva para a luta contra as forças de guerrilha fiz regressar todos os meus aviões a Luanda e cada vez que me solicitavam bombardear ou atacar zonas povoadas negava-me argumentado que eram missões irracionais.
Aproveitei o desconhecimento total que tinham os chefes superiores sobre o emprego da aviação para lhes fazer crer que com o inventário de bombas que tínhamos nos armazéns escassamente poderíamos enfrentar um ataque da África do Sul.

O gen. Del Pino à direita de Fidel Castro durante a visita de Neto
a uma base aérea de Cuba (foto livro)
Para que ninguém soubesse exactamente qual era o nosso stock de bombas, argumentei que deveríamos desconcentrar os armazéns centrais de Luanda por todos os aeródromos do país. Posteriormente dei indicações restritas ao tenente coronel Botello, chefe da logística de aviação, de que somente a mim devia informar as quantidades exactas que tínhamos em stock. Com isto consegui diminuir grandemente os massacres às povoações indefesas.
No entanto a meados de 1997, depois do meu regresso a Cuba, o coronel Raul Peres James que me tinha substituído no comando, cedeu sob a pressão dos chefes superiores e uma manhã arrasou a vila de São Salvador no norte do país, próxima da fronteira com o Zaire. O mais inverosímil do facto é que São Salvador não tinha caído nas mãos do inimigo. Alguém erroneamente informou que tropas da FNLA tinha tomado a povoação e apressadamente o Estado Maior das tropas cubanas ordenou à Força Aérea a destruição total da vila. No ataque morreram centenas de habitantes indefesos, a maioria eram mulheres e crianças que se tinham juntado na largo principal da vila para celebrar uma festa.
Aquele facto espantoso teve uma grande repercussão entre os angolanos e La Habana viu-se obrigada a enviar uma comissão investigadora, mas tudo ficou na sombra porque os principais responsáveis do massacre não foram os pilotos mas os chefes superiores da missão cubana que deram a ordem à Força Aérea.
O tenente coronel Israel Alfonso que liderava os aviões que cometeram o genocídio, jamais se recuperou do trauma que sofreu ao saber o terrível massacre que tinha cometido no cumprimentos das ordens arbitrárias dos seus incapazes chefes.
A partir daquela data, a força aérea converteu-se no instrumento predilecto de terror nas mãos da chefia cubana. Enormes sacrifícios esperavam o povo angolano pelo, uso criminoso e impiedoso que começou a dar-se por parte de todos os chefes que indistintamente foram ocupando a chefia das tropas cubanas.
Depois de concluída a ocupação total do território de Angola pelas tropas cubanas em Março de 1976, o status destas tomou diferentes matizes ainda que sempre com o mesmo objectivo de sustentar no poder o governo marxista do MPLA.
Durante os anos de 1977 e 1978, enquanto Savimbi realizava ingentes esforços para manter a chama da luta e reorganizar o seu fragmentado exército, as tropas cubanas, apoiadas por aviões e helicópteros, empreendiam vastas operações de limpeza e caçada de tudo o que se opusesse à dominação total. Ao mesmo tempo organizavam dezenas de escolas militares e centros de treino para formar as Forças Armadas Populares de Libertação de Angola (FAPLA) com a maior brevidade possível. O tempo passava e era necessário mudar a imagem de um exército de ocupação e mostrar ao mundo que o MPLA tinha o seu próprio exército. Desta maneira poderia esgrimir-se com maior força perante os governantes dos países da área, o pretexto de que a nossa presença em Angola correspondia somente a evitar um ataque da África do Sul.
Um elevado saldo de vidas cubanas custou a perseguição e caçada de Savimbi durante estes dois anos. Também o povo angolano teve que pagar um preço muito alto com os ataques e bombardeios a vilas e povoações. O massacre de São Salvador foi só um preâmbulo ao grande pesadelo que lhe esperava ao longínquo país africano.
No entanto, os rebeldes da UNITA foram-se adaptando cada vez melhor às novas condições de luta e já em meados de 1978 obtiveram a primeira e ressoante vitória contra os contínuos ataques dos aviões e helicópteros.
No dia 17 de Maio de 1978 às 16.00 hora local, o helicóptero MI-8 matricula H-06 tripulado pelo primeiro tenente Emílio Gonzáles Rivas foi abatido pelo fogo dos rebeldes. No derrube morreram Gonzáles Rivas, seu co-piloto e dez soldados cubanos, salvando-se somente o técnico de voo, subtenente Manuel Castillo Ramirez. Este helicóptero significava a primeira vitória no coração do território angolano depois do avião AN-26 abatido em 27 de Julho de 1977 na povoação fronteiriça de Cuangar.
Durante os anos de 1977 e 1978 as tropas cubanas tiveram que enfrentar não só as dificuldades da guerra irregular contra um inimigo que em cada dia se necessitava mais força e melhor organização e também se viram necessitadas a intervir e impor a sua força para manter o governo de Agostinho Neto. (...)
*General cubano, ex-chefe militar em Angola

Nenhum comentário:

Postar um comentário